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sábado, 27 de julho de 2013

Chez La Solitude



Filas. Espera. Mais de vinte minutos encostada numa perna, depois na outra, anca pra lá, anca pra cá. Mesas cheias. De pratos findos, toalhas sujas, talheres gordurosos. Bocas cheias que ajeitam alimentos pra lá e pra cá, beberricam liquidos gaseificados e  disfarçam o arroto na bochecha dilatada e olho brilhante. Crianças que dizem não, mães que insistem que sim, pais que dedilham telemóveis. Travessas que chegam e tudo começa outra vez, dez minutos num pé, mãos nas algibeiras, não há algibeiras, traça-se os braços, amachuca-se a roupa. Ruído, zonzam barulhos desafinados que dormentam as orelhas. Fome. Um grito de uma criança baixa o volume ambiente mas rápido retoma o som de enxame enfurecido.
Ninguém se fala.
Não há mensagens de amor pelas pestanas baixas e iluminadas ou toques de um pé surpreendido no caminho pelo sapato atrapalhado e afoito. Não há mãos a segurarem o mesmo pedaço de pão. Não há lembranças para dizer Lembras-te. Não há vontade para ter prazer. Não há tempo para saber.
Ninguém se fala.
Espera-se. Aguarda-se que os alimentos saciem o estomago e calem a vontade da fome. O resto são lugares ocupados de uma solidão única e própria, cadeiras dispostas par a par como um cenário em que os figurantes aguardam pela sua vez, entram e ruidosamente fingem que estão vivos.
 
 


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