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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Casablanca II






Sinto saudades de casa, do cheiro do cão, das minhas coisas, do pêlo dos gatos vociferadamente colado pela roupa antes de saír, do Tejo, aqui ainda não vi água, dizem-me que a há bela, la mer e isso só me lembra uma canção.
O fado na alma, olho-me ao espelho quando me visto com duas horas de antecedência para o dia de trabalho, não acerto o tempo como não acerto os botões com as casas da blusa, demasiado açúcar nos bolinhos de sementes de papoila que pelo dia fora se beliscam para enganar o cansaço de tanta hora de olhos cravados em relatórios que parecem ser sempre iguais, a frescura do chá de menta que apesar de avisada, escalda a lingua, emprestam-me outras, francesas, italianas, árabes mas eu só tenho saudade em lusitano pudor, daquele que se cansa pelos olhos.
O meu quarto de hotel cheira a mim mas não cheira a mim.
Cheira ao meu perfume, aos meus cigarros, à minha voz a dizer boa-noite já falta menos, mas não cheira ao meu riso, ao afago das mãos nas mãos de quem se quer, à poesia dos cadernos substituídos pelos mapas e relatórios, não cheira às invenções de estórias nas noites brancas, não cheira aos pesadelos, só conta que passou por aqui uma outra igual a tantas que também sentiu saudades de casa.
 

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