Sinto saudades de casa, do cheiro do cão, das minhas coisas, do pêlo dos gatos vociferadamente colado pela roupa antes de saír, do Tejo, aqui ainda não vi água, dizem-me que a há bela, la mer e isso só me lembra uma canção.
O fado na alma, olho-me ao espelho quando me visto com duas horas de antecedência para o dia de trabalho, não acerto o tempo como não acerto os botões com as casas da blusa, demasiado açúcar nos bolinhos de sementes de papoila que pelo dia fora se beliscam para enganar o cansaço de tanta hora de olhos cravados em relatórios que parecem ser sempre iguais, a frescura do chá de menta que apesar de avisada, escalda a lingua, emprestam-me outras, francesas, italianas, árabes mas eu só tenho saudade em lusitano pudor, daquele que se cansa pelos olhos.
O meu quarto de hotel cheira a mim mas não cheira a mim.
Cheira ao meu perfume, aos meus cigarros, à minha voz a dizer boa-noite já falta menos, mas não cheira ao meu riso, ao afago das mãos nas mãos de quem se quer, à poesia dos cadernos substituídos pelos mapas e relatórios, não cheira às invenções de estórias nas noites brancas, não cheira aos pesadelos, só conta que passou por aqui uma outra igual a tantas que também sentiu saudades de casa.
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