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domingo, 15 de julho de 2012

Vitória






 
Da empatia forte a detestá-la visceralmente vai um fósforo, por vezes nem precisa proferir palavra para me fazer sentir uma chama a arder-me nas costas, basta olhar nos seus olhos o rigor com que a mentira se veste para brilhar em qualquer sala e a preceito levar avante as suas intenções.
Nada faço para além de voltar costas e recusar-me a tomar parte no circo, ser uma das suas marionetas. Isto a público. Porque a duas, entre paredes, quando encostamos testa a testa e eu lhe cuspo mentirosa e ela a mim me escarra santa, esgravatamos no coração uma da outra e aquilo que descobrimos comemos sem mastigar, sem contar o que nos entalou na garganta.
Ela sabe de mim e entende.
Eu sei dela e entendo.
Não há perdões, porque não há o que perdoar, seja o que ficou para trás, seja o que se faz adiante para sobreviver em consequência do que se sofreu no dantes.
A Vitória não olha para as costas, não há tempo para esse luxo porque também ninguém lhe deu a oportunidade de tentar uma segunda vez e assim sendo nem a si permitirá fragilidades sobre cansaço, arrependimentos, traição, ingratidão, amor.
Por vezes, quando nos encontramos no mesmo espaço entre outros, passa por mim tão perto que lhe sinto o halo quente do corpo e depois afasta-se.
Só nos damos ao tratamento da 1ª pessoa em privado.
Já passaram alguns anos desde um desses rendez-vous tão peculiares, este inesquecível, em que ela de unhas cravadas no meu pulso sussurrava à minha orelha:
- Sabes qual é a mais velha profissão do mundo? Não é ser puta! É ser contador de estórias! Aprende!



 

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