Pela quarta vez disse-lhe, desta feita em braço regendo a ordem, os olhos abertos e as palavras articuladas no exagero, porém no tom baixo de quem se controla para não perder a compostura.
Retomou o lápis entre dedos e fixou o plano branco, é tudo um engodo, de nívea só os outros vêem e a ela só ele alcança por dentro as cores que misturou quando a viu pela primeira vez, o impacto da paleta contra o estomago, é sempre aí que sente, uma fome dolorosa e corrosiva misturada no ácido da imaginação.
Quando acabou o esboço ela tinha-se aborrecido. Queda. Ausente.
Ele chamou-a para ver, ela perguntou-lhe quem era.
Tu.
A incredibilidade. A duvida da loucura.
Sentou-se e compôs a posição que ele pedira, agora havería de manter-se imóvel para ele a desenhar como ela era.
(in Telas, C.G.-Set/2005)
4 comentários:
Pensava ele que a alcançava por dentro... Nada. Apenas iria retratá-la na posição adequada, no sorriso conveniente... Jamais capturar-lhe a alma. Assim creio.
Beijocas.
Mas como se ela nunca poderia ser descrita desenhada imaginada sentida como um ser imóvel? :)
Obrigada pelo carinho :)
Já estou mais animada, o estado de choque desapareceu à medida que a opção necessidade de operação foi sendo afastada.
Nestas situações juro sempre que nunca mais hei-de construir momentos projectados no futuro.
Porque dói a destruição desse filme visualizado e desejado.
Como uma película de filme radicalmente danificada.
Mentira minha.
Não dei um único mergulho real de mão dada com a neta, mas olhando para trás, ficou-me o gozo, de todos os que imaginei ir dar.
:)
E até já faço smiles com os dedos da mão esquerda.
Abraço
será o amor um esboço?
este é um _________(traço) denso e forte.
.
obrigada.
*
esboçando
a inércia da loucura . . .
,
brisas serenas, dou,
,
*
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