Deram alguns passos atrás, vía-se melhor, depois aproximaram o rosto nos cantos, a rugosidade do óleo deixava aperceber a mão do artista, Espatulado? Parece-me. Queres sentar? Sentemo-nos. Ombro a ombro, o olhar a fazer o quadrado da moldura, Que achas que ele estava a sentir quando pintou isto? Não sei, mas tristeza decerto... Porquê? Repara nas cores, nos tons fechados muito próximo da terra, talvez uma saudade, saudade imensa acho, não se vê uma erva, uma flor, não há árvores, É um descampado, é normal não ter nada, Com um nú? Significa o despojamento! Pode ser só dramatismo... Também, há lá coisa mais dramática que a solidão? A falta de amor, de amar... Mas isso ele teve, repara nos braços traçados... É como se guardasse dentro do peito o que se foi. Ou o que não deixa entrar! Fechado ao amor, à vida!
Ele pousou a mão sobre a dela, ela olhou-o. Por alguns segundos deixaram o tempo suspenso no que poderíam ter dito, na confissão do mesmo. Mas levantaram-se e seguiram pelos corredores do Museu sem se deterem pela análise de mais quadro algum. No banco restou uma pouca de terra.
(in Telas, C.G. - Janeiro/2007)
20 comentários:
Como respiras bem as palavras! Levíssimo ar.
bj
Abssinto,
Grazzie, A!
Acho que estou a ficar velha... já nem me lembrava destes textos!
Beijo para ti
excelente sem dúvida !
Os quadros que pintamos e as cores que neles utilizamos exprimem sempre o estado de espírito em que no encontramos e o que vai na nossa alma.
Podemos pintar imensos quadros sem termos telas, papel ou outros materiais de pintura, basta que a nossa imaginação funcione.
As cores fortes e quentes tranportam-nos para um mundo mais alegre onde nos apetece mais viver. Já basta a tristeza que por vezes nos assola.
Beijinhos
Olá. Boa tarde
Continua com belos enxertos de achados.
Amizade
LUIS 14
sei, já quase não me lembro, mas sim, sei como é bom visitar exposições a dois.
tu também sabes.
ou inventaste.
adivinhaste?
não, tu sabes.
e no banco ficou um pouco de terra...
Por vezes pergunto-me se não será tempo perdido ir ver exposições. Se for bem acompanhado isso já é diferente.
interpretações...
gosto deste texto :)
*
manifestos
gestos e pensares,
em tela traçado a dois,
,
brisas, deixo,
,
*
Gas
dentro e fora de museus, de casas, de corpos, tanta terra que vai ficando espalhada pelo soalho, em grãos invisiveis!
Gosto imenso de te ler!
Beijo e boa semana
um dia destes mando-te o desenho que um dia fiz e que me faz lembrar este quadro.
um beijo a óleo, traçado a admiração.
Fernando,
Muito obrigado pela melodia das tuas palavras.
JC,
Concordo inteiramente contigo quanto ao grande plano que é a imaginação. Aí faz-se o que se quer, sejam desenhos, letras, danças.
Haja sempre para que não se definhe.
Beijos
Luís XIV,
O maior achado aqui foi ter descoberto estas "Telas" guardadas num caderno no fundo de uma gaveta...
Fica bem!
Tri,
Inventei.
Adivinhei.
Sei.
Mas esta é uma gravura com algum tempo.
Beijo
Burro,
Olha que ficas muito bem perto da Árvore!
(Mas não comas as folhinhas, está bem?!)
Não, nunca será uma perda de tempo. Mesmo que se faça sózinho. Que nunca acaba por ser... as telas acompanham.
Escarlate,
Obrigado.
Tem várias interpretações. E é bom sabê-las dos outros.
Poeta Tu És,
Traços, riscos, improviso.
Tudo o que uma boa surpresa pode revelar... ou deixar suspenso.
BEI/de MARÉ
Arabica,
É bem verdade.
Mas igualmente se recolhem esses grãos e se faz uma montanha dentro de nós.
Muito Obrigado pela cumplicidade de sentires.
Um beijo para ti
Laura,
Fico à espera.
Seja quadro de palavras, de cores, dos teus gestos em palco.
Um beijo. A tons fortes.
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