Não escrevo em discurso directo.
Faço de conta que a terceira pessoa é outra de quem falo.
Não me apetece dizer-vos o que pensei, o que sinto e neste jogo posso sempre proteger-me na outra.
A outra é a mulher de quem falo, a que eu conheço como as palmas das minhas mãos e ainda assim apanha-me nas esquinas da surpresa e esbofeteia-me a ingenuidade de me encontrar sabida sobre quem ela é. A outra. Digo eu. Ela diz: A mulher.
Dá-me algum espaço para a comentar, dissertar-lhe os caprichos e as preferências, visiona-me, monitoriza os meus movimentos e as imitações que lhe faço, arregala-me os olhos quando avanço no defeito da teimosia, idéia fixa de jerico, procuro retoricamente o que sei me é proibido manifestando a minha sagacidade na arte de fingir.
A outra topa-me.
Estou proibida de falar em nome dela sobre o amor. As saudades. O fascinio que as dores da saudade provocam e nem sequer atravessar-me a cogitar sobre o que as palavras (não) agarram do sentimento de não saber explicar o que se sente. Ela sente, eu tento lógicas.
A mulher expia dos castigos do fingir a mão que me tapa a boca. A mão que me prende a minha mão na incapacidade de desenhar letras.
Isso não se diz, diz ela.
Sou a terceira pessoa do singular.
18 comentários:
Gas,
a "outra" topa-te com os olhos de ouvir!
topa-te bem :-)
Um beijo então para a outra!
Também eu topo hoje a outra com os mesmos olhos de ouvir!
Um beijo de agradecimento da primeira pessoa do singular para a terceira pessoa do singular!
jito,
sony
Terceira do singular, neutro, presuponho, a tal do it.
Bj.
OUTRA GAS!
CONCORDO EM ABSOLUTO COM ESSA TUA VISÃO DE TI MESMA... AFASTADA DE TI!
OLHA É UM BPM EXERCÍCIO DE VEZ EM QUANDO SAIRMOS DA NOSSA PELE E "VERMO-NOS DO EXTERIOR"... POIS O ESPELHO ÀS VEZES NÃO CHEGA!
DESCULPA NADA TE TER DITO QTO AO FECHO DO "COFFE TIME". O JPG RESOLVEU FECHÁ-LO DADO QUE APARECERAM LÁ UNS COMENTS Q NADA TINHAM A VER C/ O BLOG E MAIS NÃO ERAM QUE ESP+ECIE DE CONFISSÕES DE UMA PESSOA QUE ALI AS IA DESPEJAR EM GRANDES LENÇÓIS! ORA PARA ISSO HÁ NA NET SÍTIOS MAIS APROPRIADOS...
DADO TB, QUE UMA DAS BLOGUISTAS DEIXOU DE PODER PARTICIPAR POR UNS TEMPOS POIS A MÃE LHE FALECEU (A ANAMARTA).
ENTRETANTO PUS UM VELHINHO POEMA DO MEU VELHOTE NO "QUINTAL"...
OUTRO BEIJO À "OUTRA"... E A TI, CLARO!
observas-me de onde estás, travas-me, amordaças-me até o pensamento.não sei se tu peço! uns dias necessito que o faças para não partir num caos desenfreado. por vezes nem tenho vontades. é-me indiferente partir ou chegar por isso vou-me ficando. nem livre nem solta. nem alegre nem triste. preciso de ti para ter com quem falar. contraria-me as dores que não sentes. ralha-me com todo o autoritarismo que te cabe. porque to dei. porque sinto que to posso tirar a qualquer momento. porque és eu, nos dias que me desconheço. porque me abandonas quando não preciso de ti. não! não sei se esta é a verdade! nem te vejo sobre o meu ombro. não sei quando ou porque resolves aparecer. afinal sinto que o controlo não é meu mas sim teu! mas não me grites. há coisas que me fazem sofrer. os teus gritos, que se fazem meus. e a tua indiferença que nunca conseguirá fazer-se minha!
um beijo
meu e da luísa
Boa Tarde
Podemos esconder quem somos,
O nosso real nome que nos deram.
Mas não podemos jamais esconder,
O que de real dele pensamram.
Amizade
LUIS 14
se fosse uma pintura era surrealismo. e eu gosto.
muito.
que consigam as duas apoiar-se e, fundindo-se, seres feliz.
Sony,
Pois topa.
Por isso me admoesta sobre o que posso falar...
Que isto de ser uma, outra, outros não é nada fácil...
Um beijo Formiga Rabina
Mateso,
In did.
Beijo grande
ASPÁSIA,
O RAIO É QUE NÃO É SÓ MAIS UMA. ESTA É APENAS A "SOMBRA" QUE VIGIA A GASOLINA. DOS OUTROS... BOM DOS OUTROS MELHOR NEM FALAR, EHEHEHE!
ERA SÓ O QUE MAIS FALTAVA, PEDIRES DESCULPA!
REFERI O FACTO PORQUE É UM ESPAÇO ONDE ME SENTÍA BEM.
MAS ENTENDO PERFEITAMENTE: POR VEZES NÃO NOS DÃO OUTRAS OPÇÕES.
TENHO SEMPRE O TEU JARDIM! E CAFÉ JÁ EU TOMO A MAIS!
BEIJOS JARDINEIRA
Pin,
Texto fantástico!
É quase, quase isso... mas a outra a maior das vezes não fala comigo. É senhora do seu nariz e abre-me os olhos. Eu cumpre, eu obedeço.
Um beijo dos de cá.
Luís XIV
Sabes uma coisa?
Não me rala nada o que pensam sobre mim.
Mas tento honrar o nome que recebi em herança, que para mim é real sim. E desde que eu seja eu já lhe faço jus.
Fica bem.
Tri,
Obrigado.
Gosto me pensar dessa forma.
Surrealista.
Gosto muito, sim.
Um beijo grande, saudades.
Margarida,
Estou certa que a "outra" de mim me apoia e se funde e se desmembra e se retalha e volta ao original sob muitas formas.
E isso faz-me feliz, sim.
Muito feliz.
sermos muitos dentro de nós é que nos torna interessantes ( mesmo para nós próprios!). pessoalmente acho óptimo haver muitas gasolinas.
beijos para eles todos
marisa
Marisa,
É bem complicado viver com outros a habitar no mesmo espaço de dentro de nós.
Tu sabes do que falo.
Esta multiplicidade também a mim me fascina, mas por vezes assusta-me. Não se trata só de vestir um fato, é muito mais a dificuldade que possa acontecer no despir.
Eu sei que tu me percebes.
Um beijo e um abraço muito apertado
Querida Gasolina
És tão rica no escrever, sinto isso sinceramente, que pensei nada conseguir ultrapassar essa riqueza.
Puro engano meu!
Na verdade as duas, tu e ela, a tua sombra protectora e o teu regalo conseguem ir ainda mais longe...
Sabes? És como o oiro das minas da Adiça... tem tons azulados do mar, do nosso mar...
Beijinhos.
Victor,
Que belissimo elogio me fazes, mas não o mereço.
Como já o disse há cerca de um ano, talvez que a menos interessante seja eu mesmo, que dos EUS, até eu por vezes acho graça.
Um beijo Querido Victor. Com as cores do nosso mar.
Enviar um comentário