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domingo, 31 de agosto de 2008

O jantar (Aperitivos)

Embora os conhecesse bem havía preparado com bastante antecipação o cardápio a servir. Cada um no seu coração, cada qual mais oposto que o outro. Era isso que a fascinava e que a mantinha acordada naquele estalo de os desvendar continuadamente por muitos anos que tivessem passado e ainda nos vindouros. Sentía-se uma esponja e eles pingavam-se entre manias de pessoa comum e o uso do verbo na genialidade dos poucos.

O primeiro a chegar, pontualissimo, foi José Maria. Exalava suave a bergamota no lenço de seda e irreprensível no lustro dos botins. Falou do tempo, dos calores e da condição humana enquanto lhe segurava levemente flectido a ponta dos dedos.

Logo de seguida pareceu Franz que mal se apercebeu da presença de José Maria e das suas opiniões politicas entregou um beijo à anfitriã denotando uma intimidade que de facto não existía. Ela sorriu, indicou a sala, o sofá confortável, os aperitivos. Franz serviu-se de um Madeira e encheu um cálice de xerez para José Maria, que acusando o picante acintoso apenas lhe dirigiu um toque de cabeça mantendo-se na sua posição de perna traçada acomodado no canto do sofá.

Lúcia entrou como era: espalhafatosa, a falar muito alto, beijando os dois homens enquanto relatava as aventuras que tivera no caminho. Eles sorriram ante a visão do decote ousado e dos seios ofegantes que a qualquer momento parecíam escapar-se ao pouco tecido que os cobría. Dirigiu-se à garrafa de whiskey e tragou um cálice puro, depois encheu um copo short drink e às mãos cheias completou-o de gelo enquanto se oferecía uma pedra única a derreter na boca.

A desculpar-se pelo atraso de muitos afazeres, um pouco dobrado e de óculos sujos surgiu Fernando, pasta encaixada no sovaco, a tez amarelada, um pouco suado e com cheiro de tabaco entranhado na roupa. Ela sossegou-o dizendo que ele não era o último, que chegava a tempo, ainda faltava David. Ele pareceu um pouco assustado, murmurou tanta gente, adiantou alguns passos na direcção da saída mas ela agarrou-o por um braço e sussurrou-lhe não me faças essa desfeita ao que ele acedeu por tanto gostar dela.

Não quis nada mais para além de um copo de água que vazou de um trago; ela voltou a servi-lo do jarro de serviço e mais uma vez ele dessedentou-se avidamente.
José Maria riu baixinho, olhando-o fixamente, isso é que é sede homem! Fernando procurou refúgio imediato junto a um móvel olhando as fotografias de familia como se elas lhe pudessem proporcionar o disfarce necessário para a sua invisibilidade.

David entrou, cumprimentou na generalidade, ofereceu um ramo de rosas amarelas à dona da casa, tirou o botão que trazía na lapela e enfeitou o cabelo negro e liso de Lúcia por detrás da orelha, adiantando-se em cavalheirescas desculpas de não saber que havería outra senhora presente.

Dispensou os aperitivos, guardava-se para as iguarías que sabía haveríam de o surpreender.

Mesa? E ela destinou os lugares, o sexo feminino em cada topo, Fernando - que precisava da sua presença perto - ao seu lado direito e os outros que se ajeitassem a bel-prazer, afinal eram todos de casa.




(continua)

14 comentários:

Antunes Ferreira disse...

LISBOA - PORTUGAL

Olá!

Cheguei a este blogue através de outros que costumo visitar e neles postar comentários. Cheguei, vi e… gostei. Está bem feito, está comunicativo, está agradável, está bonito – e está bem escrito. Esta é uma deformação profissional de um jornalista e dizem que escritor a caminho dos 67…, mas que continua bem-disposto, alegre, piadista, gozão, e – vivo.

Só uma anotaçãozinha: Durante 16 anos trabalhei no Diário de Notícias, o mais importante de Portugal, onde cheguei a Chefe da Redacção – sem motivo justificativo… pelo menos que eu desse com isso… E acabo de publicar – vejam lá para o que me deu a «provecta» idade… - o me(a)u primeiro livro de ficção «Morte na Picada», contos da guerra colonial em Angola (1966/68) em que, bem contra vontade, infelizmente participei como oficial miliciano.

Muito prazer me darás se quiseres visitar o meu blogue e nele deixar comentários. E enviar-me colaboração. Basta um imeile / imilio (criações minhas e preciosas…) e já está. E se o quiseres divulgar a Amiga(o)s, ainda melhor. Tanto o blogue, como o imeile, tá? Muito obrigado

www.travessadoferreira.blogspot.com
ferreihenrique@gmail.com

Estou a implementar e desenvolver o projecto que tenho para o meu www.travessadoferreira.blogspot.com e que é conferir ao meu/vosso/NOSSO blogue a característica de PONTO DE ENCONTRO entre os Países fraternalmente ligados – Portugal e Brasil. E outros PALOP e etc…
Se me enviares o teu IMEILE, poderei enviar-te «coisas» que ache interessantes. Se, porém, não as quiseres, diz-me que eu paro logo. Sou muito bem-mandado (a minha mulher que o diga…) e muito obediente (cf. parênteses anterior). Abrações e queijinhos, convenientemente repartidos e distribuídos

– Desculpa por este comentário ser tão comprido e chato. Como a espada do D. Afonso Henriques…
- Já conheces o me(a)u «Morte na Picada» que acima menciono? Há quem diga que é muito bom. E até que é o melhor que se escreveu em Portugal sobre o tema. Dizem… Obviamente que não sou eu a dizê-lo… Só faltava… E também há quem tenha escrito que é SANGUE & SEXO… Malandrecos… Pelo sim, pelo não, compra-o.
Depois de o leres, se, por singular acaso, tiveres gostado dele, terás de comprar muitíssimos mais exemplares. São excelentes prendas de aniversários, casamentos, divórcios, baptizados, e datas como Natais, Carnavais, Anos Novos, Páscoas, Pentecostes, vinte e cincos de Abris, cincos de Outubro, dezes de Junhos. Até para funerais. Oferecer o «Morte» na morte fica bem em qualquer velório que se preze. E, além disso, recomenda-o, publicita-o, propagandeia-o, impinge-o aos Amigos, conhecidos, desconhecidos & outros, SARL. Os euros estão tão raros e... caros...
++++++++++++
A editora da obra é a Via Occidentalis (occidentalis@netcabo.pt) cujo site é www.via-occidentalis.blogs.sapo.pt. Neste blogue podem ser consultados mais dados sobre o livro, cujo preço de capa é € 14,70. ATENÇÃO: Pode ser comprado pela Internet.
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NOTA IMPORTANTE: Este texto de apreciação e informação é similar em todos os casos em que o utilizo. Digo isto, para quem não surjam dúvidas ou suspeitas sobre a repetição em diferentes blogues. E para que ninguém se sinta ludibriado – ou ofendido… Há feitios que… Mas, sublinho, apenas o uso quando o entendo, isto é, quando gosto mesmo dos que visito. Nos outros onde também vou, se não gosto, saio sem comentários. Há muitos mais. Aqui na terrinha diz-se que «se não gostas, põe na beirinha do prato…»

mundo azul disse...

Muito bom! Gostei demais da sua narrativa... Vou voltar para ler a continuação!


Beijos de luz e uma semana feliz!!!

Gasolina disse...

Antunes,

Bem vindo.

Já te tinha apanhado noutros espaços e como sou curiosa já havía visitado a Travessa.

Obrigado pelo teu convite. Quem sabe?!
Assim o tempo me permita.

Um abraço

Gasolina disse...

Mundo Azul,

Olá!

Muito obrigado pelo apreço.

Volta então... talvez com o tempo descubras quem são os comensais.

Beijo, boa semana

Laura Ferreira disse...

Querida Gasolina,

É bom saber que posso ler-te.
As tuas palavras dão-me vontade de escrever...

marisa disse...

sabes com poucos captar a curiosidade do leitor, porque escreves bem, muito bem. repito-me, mas de vez em quando tem de ser.

beijos

marisa

ASPÁSIA disse...

HOJE FIZ-ME CONVIDADA TAMBÉM PARA ESTE JANTAR, APESAR DE OS COMENSAIS JÁ SEREM TANTOS... E GOSTEI DESTES APERITIVOS!
AQUI HÁ UM MISTÉRIO... TODOS ELES SAÕ AO MESMO TEMPO "DA CASA" E "VISITAS DA CASA"...

TENCIONO VOLTAR PARA SEGUIR ESTE FOLHETIM, PARA MIM QUASE RADIOFÓNICO, POIS COMO SABES LEIO DE OUVIDO OS MAIS LONGOS, APESAR DE VEZ EM QUANDO DEITAR O OLHO PARA TIRAR ALGUMA DÚVIDA.

APERITIVO DE BEIJOS

Gasolina disse...

Laura,

O prazer que tenho em que venhas à Árvore só é comparável com o que retiro ao ler-te.

Por isso, não mo negues, ESCREVE. Tu sabes fazê-lo e muito, muito BEM.

Beijo Querida laura

Gasolina disse...

Marisa,

Já não sei o que dizer... Tens sido leitora, olheira, conselheira, ouvinte como poucos e a tradução de uma Amiga.

Obrigado.

Sabes? Estou feliz de não ter ido embora... e tu tiveste um papel importante nessa decisão.

Um beijo em ti, outro pelo Reno

Gasolina disse...

ASPÁSIA,

SENTA. TOMA O TEU LUGAR A ESTA MESA. ESTOU CERTA QUE CONHECES OS QUE ESTÃO AQUI. TAMBÉM SÃO DE TUA CASA.

???

E AGORA?
EHEHEHE!!!
ACEITA-SE PALPITES.

UM BEIJO JARDINEIRA!

PS: TIVE UMA REUNIÃO E ENCOMENDEI UMAS CHUVAS... QUE ACHAS?

Mateso disse...

O José Maria... pois é. Sempre ele, o tipo...e não só, muito, muitíssimo mais.
Espero a continuação, porque gostei uma vez mais do que li.
Bjs.

ASPÁSIA disse...

AAAAHHHHHHHHHHH!!!!

ESTOU ESPANTADA! AGORA QUE DIZES ISSO...

FRANZ... KAFKA?
JOSÉ MARIA... EÇA DE QUEIRÓS?
FERNANDO... PESSOA??
DAVID... MOURÃO-FERREIRA?

AGORA A LÚCIA É QUE É PIOR! SÓ ME LEMBRO DA LEPECKI...

OU SERÁ TUDO IMAGINAÇÃO MINHA?

QUNATO ÀS CHUVINHAS, VENHAM ELAS, PARA ME LAVAREM A SECURA DOS OLHOS E JÁ AGORA O CARRO, QUE ESTÁ UMA VERGONHA... EHEHEH...

BEIJOKA KAFKI-ANA ;)...

Gasolina disse...

Mateso,

Pois é... eu não disse que há coincidências tão engraçadas?!

Volta sim. Espero que a continuação te dê agrado, que a mim ver-te na Árvore faz-me feliz.

Um beijo no Azul

Gasolina disse...

ASPÁSIA

SERÁ?

AHAHAHAH!!!!

CLARO QUE NÃO VOU DIZER NADA, NÃO É?!
MAIS UM POUCO, SÓ MAIS UM POUCO DE SUSPENSE!

EU SEI QUE ISTO É DE DIABRETE, MAS QUE FAZER?! ADORO SURPRESAS!

UM BEIJO JARDINEIRA DA MINHA ÁRVORE


PS: QUANTO ÀS CHUVAS, PARECE QUE NO FINAL DA SEMANA HÁ MAIS... EU JÁ PEDI, VAMOS VER SE ME ATENDEM...