
O velho lenhador guardando o dinheiro amarfanhado junto à rodilha do lenço sujo aproximou-se deles e gritou como que a cantar "então freguesa?"
Mas a freguesa torcía o nariz e nenhum pinheiro lhe enchía as medidas. E o lenhador na sua ladaínha de sedução sufocava pelo tronco pinheiros farfalhudos, passando as mãos grossas e calejadas pelas agulhas, deslizando-as como cabeleiras fartas, comentando que aquele era o melhor sitio onde podía comprar a sua árvore de natal.
E desgarrada dos outros pinheiros lá estava uma arvorezinha delgada, quase raquitica de ramagem, uma única pinha pendurada... Ele olhou para a mulher e os dois tiveram a certeza que aquela era a única que poderíam levar para casa e enfeitar junto à lareira.
Perguntaram pelo preço mas o lenhador riu-se e disse-lhes que aquela era "ruim e desfigurada, torta e nada bonita". Eles insistiram e o lenhador farto da venda e do frio apenas soprou "ofereço-lha!".
O homem agarrou o pinheirinho pelo tronco magro e sentiu a mão a queimar. Surpreso, abriu a palma e viu que estava manchada de resina. Acalmou-se, nada comentou com a mulher que seguía à sua frente.
Chegaram a casa e levaram a árvore para a sala, junto à lareira, plantando-a num enorme cabaz repleto de terra. Trouxeram os enfeites e as luzes. Mas a árvore tinha crescido e crescido e agora, para espanto deles, erguía-se esbelta e altiva naqule verde profundo e fresco, roçando o tecto da casa. Eles apenas olhavam e silenciosos deram as mãos num receio que aquela magia desaparecesse.
Ela reparou no tronco: vigoroso, mostrava uma mancha cor de mel, um âmbar que gotejava, desenhando uma marca cravada fundo naquela madeira loira.
Abraçados, aproximaram-se do pinheiro elegante e conseguiram com toda a nitidez ver um coração tatuado, os bordos enfeitados de resina brilhante e odorífera.
Recordaram então um tempo de namoro em que ambos se tinham prometido para todo o sempre, um coração desenhado numa árvore qualquer, dois nomes inscritos, um amor a crescer conforme o pinheiro subisse em direcção ao infinito azul.
14 comentários:
bela história de amor.
tenho uma lá no meu país, não tão bonita...
Tão linda esta história!!!
Bjkas
Querida amiga de fogo,
Há muito que nao vinha pelo meu blogue, por estar fora e nao ter tempo para nada. Estou outra vez em casae vou começar outra vez a pôr alguma postagem e uma música linda.
Vejo que regressas-te e fico mesmo feliz. Os teus escritos, como sempre sao uma maravilha, fazem sonhar.
Muitos beijinhos
*
brilhante e odorífera
,
como o amor
*
xi
*
O coração do pinheiro ou o coração no pinheiro?
Não importa quem nem qual, o que importa é o pulsar, e como pulsa,no calor do amor!
Súbtil este teu conto.
Como gostei.
Feliz Natal!
Beijo
Ia descortinando o fim à medida que lia. Tinha de ser. O pinheiro deles. Regressou talvez encarnado noutro para lhes lembrar de uma certa promessa. Terno é o teu coração Gas.
Um beijo
Pentelho Real,
Obrigado pelas tuas palavras.
Mas tu tens gravuras mais bonitas que as minhas...
É o equilibrio, acho.
Papagueno,
Obrigado.
Talvez um pouco fora dos convencionalismos natalicios...
Um beijo forte
Ema de Fogo,
Minha mui querida Amiga.
Que grande prazer e felicidade de te saber de volta!
Beijinhos, muitos!
POetaEuSou,
O brilho do amor enfeita qualquer pinheiro tão melhor que muitas bolas coloridas.
BEI/De MARÉ
Mateso,
Há na força das árvores uma intemporalidade e serenidade que eu gostaría fosse igual ao amor.
...porém só nas histórias de encantar.
Um beijo para ti, Azul Mateso
M.,
Ai!
Fui assim tão óbvia?! (risos)
:~D
Obrigado pelo teu olhar tão sincero, aprecio-o deveras.
Um beijo
O Amor. A nostalgia.
Abssinto,
Sim. E outra vez Sim. Mas também a consagração, a fortaleza inabalável de quando se sabe a quem se ama.
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